sábado, 27 de outubro de 2012

Redoma


Enquanto as luzes iluminam a cidade
Que se move a largos passos
Eu observo sentado a tudo

- Não, não, sei que hoje nada me consola
Talvez amanhã, quem sabe

- Não , Nana, não será o último cigarro
Não insista em mensurar a distância
Que me separa da coragem
Para enfrentar meus medos
Sei que hoje nada me consola

A sensação do correr dos dias
E eu aqui, sentado, como se
Não houvesse um mundo
Lá fora

E pelo vitral da vida
Sou um espectador do meu destino
Lânguido demais para alterar qualquer
Rumo

- Não, Nana, esse não será o último cigarro
Não enquanto minha fantasia vira fumaça
E eu a trago, acreditando assim possuí-la,
Em minha doce ilusão de alegria
De fugir do que temo encarar

E um fluido de vida irrompe em fúria
Mas se abranda frente à chance
De se realizar.
Quando tudo está perto
Sinto-me afastar da chance
De torná-lo experiência

- Não, Nana, esse não será o último cigarro
Há um vão em cada canto dessa casa
Desde que você se foi
Há palavras fraturadas no ar
Há sua ausência
Ainda não aprendi a lidar com os mortos

O mirante é meu lugar
Nada será como eu sonhei
Então fico a reprovar meu êxtase
Minha torpe estaticidade
EstátuaCidade
Que me tornei
Só memórias despretensiosas

- Sim, Nana, é o último cigarro
De hoje
De tanto tragar minha imaginação
Já não sei mais o que pensar
Fecho os olhos
Talvez amanhã.

(Felipe Vigneron)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Rascunho



Um casal se beija
Num beijo impossível
Num local imprevisto
Num tempo futuro
Nem próximo
Nem distante
Nem

Os olhares se aproximam
De um modo impossível
A uma distância imprevista
Vislumbrando um comum futuro
Nem próximo
Nem distante
Nem

As palavras são ditas e firmadas
Acordadas no vento
Sem papel assinado
Aguardando uma realização futura
Nem próxima
Nem distante
Nem

Escrevo nesse papel o impossível presente
Para torná-lo real
E deixo que as linhas aqui traçadas
Enformem meu desejo
Sussurado no seu ouvido
Por minha voz que o tempo leva
Para onde quer que você esteja

(Felipe Vigneron)